
Você sabia que o Eletrocardiograma é uma ferramenta diagnóstica simples, barata e que pode contribuir muito para aumentar a Resolutividade da Atenção Primária? Provavelmente sim.
Entretanto, assim como boa parte dos nossos colegas, você pode se encaixar no grupo daqueles que não se sentem muito confortáveis ao se deparar com um "eletro". Isso se deve a muitos fatores que não nos cabe analisar aqui, mas um deles com certeza é o famoso medo de "comer bola", de deixar passar um diagnóstico raro ao analisar o exame. Este é um medo completamente compreensível uma vez que a nossa formação, grosso modo, se dá no ambiente dos hospitais universitários, onde encontramos de forma concentrada as doenças mais raras. É o que nos diz um Paper clássico publicado em 1961 no New England Medical Journal por White e colaboradores . Neste texto, intitulado "Ecologia dos cuidados médicos" já se apontava para esta questão. Desta forma a nossa formação médica se encontra sempre "viciada" em encontrar as condições raras e fica receosa em fechar diagnósticos simples!
Trago verdades: o mundo real é exatamente o oposto disso! No cotidiano dos serviços de Saúde, seja na Atenção Primária ou mesmo nas Urgências e emergências (públicos ou privados) não é com as condições raras que você terá maior chance de se deparar Ou seja, não deixe de tentar ler um ECG por medo de não dar um diagnóstico de Síndrome de Brugada!
Um Estudo da Faculdade de Medicina da UFMG em conjunto com o Telessaúde-UFMG e o Departamento de Saúde Pública da Universidade de Lille na França deixou isso claro como água!
Utilizando Eletrocardiogramas laudados pelo serviço de Telesaúde da UFMG entre 2009 e 2013, com um n= 1.101.933 (isso mesmo, mais de um milhão de ECGs) todos de pacientes da Atenção Primária do Estado de Minas Gerais (oriundos de 722 cidades do estado) os pesquisadores identificaram números que devem nos chamar atenção. Nada menos que 69,6% de todos os exames eram normais ou variantes da normalidade. Isto mesmo, você não leu errado, quase 70% dos exames não tinham nenhuma alteração! E sabem quais foram as principais condições encontradas? As de mais fácil diagnóstico para um Médico razoavelmente treinado em ECG: 9,52% Sobrecarga Ventricular Esquerda, 11,61% Infarto do miocárdio, 8,21% extra-sístoles, 5,98% bloqueio de ramo esquerdo... E por aí vai!
O artigo completo está disponível para Download no nosso Site, assim como o artigo clássico "Ecologia dos cuidados médicos".
O que queremos dizer com isso? A maioria de seus pacientes possui condições muito comuns e que um Médico/a de Família bem treinado pode e deve fazer seu diagnóstico com um aparelho de ECG na Atenção Primária, encaminhando para o especialista focal (cardiologista) apenas o necessário para a condição de cada paciente ou em caso de dúvidas.
É nisto que é baseado nosso curso! Não conhece ainda? Navegue um pouco pelo Site e venha nos conhecer melhor!
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