
Certamente você já se deparou com vários casos de Fibrilação Atrial (FA) no seu consultório na Atenção Primária (APS), afinal, ela é a mais comum das arritmias cardíacas, acometendo em torno de 1% da população total e 5% dos maiores de 65 anos. Diante da transição demográfica que hoje passamos no Brasil a prevalência da FA deverá aumentar, uma vez que estudos recentes têm demonstrado que quanto mais envelhece a população, maior a prevalência desta patologia. Estudos italianos e suecos demonstram que a prevalência dobrou na última década.
Sabe-se que o maior significado clínico da FA não é a arritmia em si, mas o risco aumentado de Acidente Vascular Encefálico (AVE). A literatura médica disponível nos informa que os episódios de AVE relacionados com FA tendem a ser mais severos e com maior mortalidade. E o que isso significa para os Médicos e Médicas de Família e comunidade (MFC’s)?
É importante lembrar que o cuidado continuado, longitudinal, de um paciente durante boa parte de sua vida é feito pelos MFC’s. É na APS que o paciente tende a chegar pela primeira vez com seu episódio de palpitação ou pré-síncope, antes que tenha episódios mais severos com alta resposta ventricular associados a dispneia e necessário encaminhamento urgente a serviços de emergência. Ou seja: é na APS que pode ser feito o diagnóstico e manejo da FA antes que algum evento maior (como o AVE) aconteça. E, ironicamente, a APS que cuidará dos pacientes com sequelas de acidentes vasculares no processo de reabilitação, manejando suas múltiplas morbidades. Entretanto é conhecida a insegurança de muitos colegas que atuam na APS quanto ao manejo de anti-arritmicos ou anticoagulantes. Em estudo britânico de 2014 se identificou que apenas 36% dos pacientes admitidos em ambiente hospitalar com episódio de AVC e FA já conhecida tomavam anticoagulantes!
Em editorial de julho de 2017 no British Medical Journal, Mark Lown questiona se deve-se pensar em estratégias de rastreio populacional para FA, dada sua crescente prevalência no mundo e seu relativamente fácil manejo, que pode salvar muitas e muitas vidas. Há ainda pouca evidência que sustente a tese do rastreio populacional, mas os estudos disponíveis são unânimes ao afirmar os benefícios do controle do ritmo/frequência e da anticoagulação (criteriosa) tão logo identificada a patologia.
De acordo com recém-lançado Manual da Residência em Medicina de Família e Comunidade da FMUSP, é competência indispensável (Nivel I/II) para o MFC diagnosticar e manejar o controle do ritmo e frequência e conhecer bem os critérios de encaminhamento ao especialista focal, além de considerar como competência importante (Nível I/II) o manejo da Anticoagulação.
Diante deste cenário se faz fundamental aprimorar o treinamento dos MFC’s em formação no que concerne a FA e suas complicações
Bibliografia
Lown, M. (Julho de 2017). Should we screen for atrial fibrillation? British Journal of General Practice.
Physicians, R. C. (acesso em 23/11/2018 de Março de 2017). Sentinel Stroke National Audit Programme (SSNAP). Fonte: Stroke Audit: https://www.strokeaudit.org/Documents/National/Clinical/AugNov2016/AugNov2016-PublicReport.aspx
Valladão Jr., J. R., Gusso, G., & Olmos, R. D. (2018). Medicina de Familia e Comunidade: série manual do médico residente do HC-FMUSP. São Paulo: Atheneu.
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